Era um dia qualquer. Eu estava empolgado,
logo após a aula iria direto para a livraria. Livros são quase tão bons quanto
pessoas. O dia realmente estava se mostrando um empecilho, pois o tempo não
passava. Parecia até mesmo que o relógio estava tentando se divertir malevolamente a custas da minha tímida ansiedade.
Ainda faltava um pouco, só mais um pouco.
Eu já estava rachando por dentro por conta do defeito da inquietude. Como uma
criança que não consegue dormir por conta do passeio no dia seguinte. Contudo,
aquele martírio finalmente se encerrara. Logo mais pude libertar-me e deixar
emanar o devaneio do que viria pela frente.
Um pouco mais apenas, a viagem de ônibus
fora rápida, apesar da distância. O dia estava se derramando pela cidade com
seu tom cinzento. Era bastante agradável. Com uma alegria anormal corri pelos
corredores do shopping com passos lentos, as pessoas ao redor olhavam a mim
estranhando o bobo sorriso estampado em meu rosto.
Subindo as escadas. Perdendo-me nos
pensamentos vagantes até chegar na livraria, o vulgo segundo paraíso.
Passaram-se quase duas horas, ainda estava escolhendo livros, mas... Aquela
animação já se desvanecera, agora lembrei. Estava sozinho. Sempre estive,
entretanto, lembrar daquilo sempre trazia lembranças ruins. Eu já estava me
desmanchando, o rosto já corado, as lágrimas salobras escorrendo pelo rosto e
pingando em meus pés quase nus.
Abaixei-me em frente a estante no canto
mais reservado da livraria. Queria esconder-me do mundo naquele momento de
fragilidade. Quando então uma mão repousou gentilmente em meu ombro. Virei-me
lentamente limpando o rosto com vigor, mas as lágrimas não cessavam.
— Boa tarde, você está procurando algum
livro em particular. — Talvez eu tivesse tido
sucesso com relação as lágrimas, ele não havia percebido. Ergo o corpo ainda
limpando o rosto.
— Não
obrigado, nenhum em particular. — Ele então sorriu para mim
complacente e envolveu-me num abraço quente.
— Não precisa se exceder sozinho, em
todo lugar existe ao menos uma pessoa para lhe disponibilizar um abraço,
olhares tristes para os livros e os que são escolhidos demonstram os
sentimentos das pessoas, não se prenda assim em seu mundo, apenas... Solte. —
Ele era alto, mais do que eu e seu abraço quente era reconfortante,
aquelas palavras, eram verdadeiras.
Acabei cedendo e chorando vigorosamente em
seu ombro. Pelo visto, alguém havia escutado meu socorro silencioso.
Autor: Lucas Martins (Rei Fada)
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