quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Prazer, Reciprocidade.


Ando por aí sem rumo, procurando um lugar para ficar. Se vou encontrar? Não sei, é difícil dizer. Já não temos placas na frente das casas dizendo que há vagas. Já não tem ninguém olhando da porta, esperando uma visita inesperada.
Ando por caminhos frios. Eu gosto do frio, por isso ando com os pés descalços. (É irônico, para quem é feito de calor.) Mas um dia estes caminhos foram marcados com um par de pé do tamanho 38, ou outro tamanho qualquer. Eles me conduziram até uma porta entreaberta, com a luz suave de um abajur no canto de uma clássica sala. Nesta casa havia algumas fotografias, em cima da mesinha que ficava entre os dois sofás. Na fotografia havia a o registro de um dia, um dia nublado e bonito. Sim, eu gosto da cara da chuva que faz promessa de vir.
Mas, também havia duas pessoas, um casal sentado em um palanque que ficava bem de frente para o mar. Ao lado, uma carta aberta, de caligrafia bela. Letras cursivas, palavras pensadas e que se transformou. Um texto de amor. Mas de amor para quem? Já não há ninguém. Ele tinha ido, e deixou o seu último suspiro, quando escreveu “com amor”. Aquela já não era a sua casa, lá já tinha vaga para um novo amor.
Atentei-me no mesmo momento, procurei passos molhados, de quem precisava de acalento. Encontrei uma escada molhada que me levava ao alto da casa, onde um quarto encontrei, entrei.
Lá havia uma linda moça, a da fotografia, da carta que eu lia. Estava embrulhada, com a toalha encharcada e sentada, sem esperar nada acontecer.
Entrei devagar para não a assustar, e naquela toalha, ela estava desnuda.
Pude sentir o frio que lhe acompanhava, senti que algo lhe faltava, e logo pude entender. Era o calor de um sentimento vizinho, que morava a 10 metros na mesma rua, que era amigo, era próximo do que se chamava amor.
O nome dele era esquisito, algo meio difícil. Acho que se chamava recíproco.
Não precisei falar muito para ela se abrir comigo, apenas abracei e o meu calor lhe dei, fazendo ela despertar do frio que estava a lhe tomar.
Ela me contou que esse vizinho tinha o dom de ser recíproco, por isso, assim o chamava. Ele vivia comentando com todos, durante o ano todo que, alguém parecido com ele queria encontrar.
Me disse também que o mesmo dizia que era difícil, encontrar a tal da dona reciprocidade em um mundo mesquinho, quando esta é logo vista pelo olhar.
Ela calou naquele momento, e apenas sentiu a brisa do vento que não vinha mais a incomodar. Pude entender naquela história que era complicado me ter há toda hora, pois eu não estava em todo lugar, mas estava em quem era especial como ela, eu estava lá.
Antes de pedir para ficar, me apresentei para ela. Prazer, Reciprocidade. Aquela que as pessoas têm dificuldade em encontrar. Posso ficar aqui com você? Prometo que posso te entender, desde frieza a intensa vontade de amar.
Felizmente fui a surpresa boa. Ela balançou a cabeça com a felicidade de quem nunca me viu, dizendo que sim para mim. Me deixando doar. Dormi com ela naquele dia, mas antes o pensamento que me atingia, era: “como as pessoas não sentem o outro amar? ”. No outro dia liguei para outra pessoa, alguém como eu, que na casa do vizinho poderia passar. 

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