domingo, 16 de outubro de 2016

Escritores anônimos 1 - Aquele dia na livraria




Era um dia qualquer. Eu estava empolgado, logo após a aula iria direto para a livraria. Livros são quase tão bons quanto pessoas. O dia realmente estava se mostrando um empecilho, pois o tempo não passava. Parecia até mesmo que o relógio estava tentando se divertir malevolamente a custas da minha tímida ansiedade.

Ainda faltava um pouco, só mais um pouco. Eu já estava rachando por dentro por conta do defeito da inquietude. Como uma criança que não consegue dormir por conta do passeio no dia seguinte. Contudo, aquele martírio finalmente se encerrara. Logo mais pude libertar-me e deixar emanar o devaneio do que viria pela frente.

Um pouco mais apenas, a viagem de ônibus fora rápida, apesar da distância. O dia estava se derramando pela cidade com seu tom cinzento. Era bastante agradável. Com uma alegria anormal corri pelos corredores do shopping com passos lentos, as pessoas ao redor olhavam a mim estranhando o bobo sorriso estampado em meu rosto.

Subindo as escadas. Perdendo-me nos pensamentos vagantes até chegar na livraria, o vulgo segundo paraíso. Passaram-se quase duas horas, ainda estava escolhendo livros, mas... Aquela animação já se desvanecera, agora lembrei. Estava sozinho. Sempre estive, entretanto, lembrar daquilo sempre trazia lembranças ruins. Eu já estava me desmanchando, o rosto já corado, as lágrimas salobras escorrendo pelo rosto e pingando em meus pés quase nus.

Abaixei-me em frente a estante no canto mais reservado da livraria. Queria esconder-me do mundo naquele momento de fragilidade. Quando então uma mão repousou gentilmente em meu ombro. Virei-me lentamente limpando o rosto com vigor, mas as lágrimas não cessavam.
Boa tarde, você está procurando algum livro em particular. Talvez eu tivesse tido sucesso com relação as lágrimas, ele não havia percebido. Ergo o corpo ainda limpando o rosto.
Não obrigado, nenhum em particular. Ele então sorriu para mim complacente e envolveu-me num abraço quente.
— Não precisa se exceder sozinho, em todo lugar existe ao menos uma pessoa para lhe disponibilizar um abraço, olhares tristes para os livros e os que são escolhidos demonstram os sentimentos das pessoas, não se prenda assim em seu mundo, apenas... Solte. Ele era alto, mais do que eu e seu abraço quente era reconfortante, aquelas palavras, eram verdadeiras.
Acabei cedendo e chorando vigorosamente em seu ombro. Pelo visto, alguém havia escutado meu socorro silencioso.

Autor: Lucas Martins (Rei Fada)

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